quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Fenômeno Bullying

Artigo
Mário Felizardo


Quando abordamos o tema “violência nas escolas”, nos vêm em mente formas explícitas de
violência: vandalismo, pixação, rixas e agressões contra professores. Porém esquecemos – ou
desconhecemos – que a escola convive com uma violência ainda mais cruel, muitas vezes,
ignorada ou não valorizada da devida forma por pais e professores.
Trata-se do “Fenômeno Bullying”, definição universal para o conjunto de atitudes agressivas,
repetitivas e sem motivação aparente perpretadas por um aluno – ou grupo – contra outro,
causando sofrimento e angústia.
Estamos falando do isolamento intencional, dos apelidos inconvenientes, da amplificação dos
defeitos estéticos, do amedrontamento, das gozações que magoam e constrangem, chegando
à extorsão de bens pessoais, imposição física para obter vantagens, passando pelo racismo e
pela homofobia, sendo “culpa” dos alvos das agressões, geralmente, o simples fato de serem
“diferentes”, fugirem dos padrões comuns à turma – o gordinho, o calado, o mais estudioso, o
mais pobre.
As vítimas dessa violência silenciosa presente em todas as escolas, sem distinção de classe
social ou região geográfica, sofrem caladas e de forma contínua, tornando sua vida escolar um
martírio. As chagas abertas na alma desses meninos e meninas dificilmente cicatrizam.
Os agressores, normalmente jovens “populares”, provenientes de um ambiente familiar
desestruturado e de modelo autoritário, também sofrerão as conseqüências da falta de limites
e da não-afirmação de valores vivenciados nessa fase da vida. Pois, o que esperar desses
jovens que fazem dos mais frágeis objetos de diversão e prazer, senão adultos de atitudes
anti-sociais?
Há os que não agridem nem são vitimados, porém convivem resignados com esse indesejado
desequilíbrio de poder. Sementes de adultos que cruzam os braços frente às injustiças e ao
abismo das desigualdades de nosso país.
Para exemplificar, uma pesquisa na Europa que acompanhou jovens que, entre 12 e 16 anos
eram agressores, verificou que até os 24 anos, 60% deles tinham pelo menos, uma acusação
criminal.
Dados os prejuízos psicológicos que essa forma de agressão produz temos que reconhecer e
procurar sanar, também, a íntima ligação do fenômeno com o baixo rendimento escolar, o
absenteísmo e a evasão escolar.
A partir da análise das conseqüências individuais e coletivas da participação de cada um dos
envolvidos, é evidente que o bullying praticado nas escolas de hoje, projetado para o futuro,
significa violência doméstica, alcoolismo e drogadição, assédio moral no trabalho,
criminalidade e altos investimentos na área da saúde, na construção de presídios e na
estrutura da justiça e da segurança. Nesse sentido, outros países tratam o tema com a maior
relevância. Podemos afirmar que estamos, pelo menos, 15 anos atrasados nessa questão.
Assim sendo, juntamente com a professora Jane Pancinha, desenvolvemos o projeto de cunho
social denominado “Diga Não ao Bullying” que visa a conscientizar, motivar e dar ferramentas
para que a comunidade escolar desenvolva estratégias de combate a essas agressões
veladas.
Para cada vítima que encontre entendimento para seu sofrimento ou para cada agressor que
se dê conta de sua transgressão, renova-se a esperança de um mundo mais justo e solidário.




Mário Felizardo é Oficial de Proteção da Infância
e da Juventude do Poder Judiciário e
coordenador do Programa Diga Não ao Bullying da entidade

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