domingo, 20 de fevereiro de 2011

Reportagem da Semana> O astronauta de Maratá

Marcos Pontes não foi o primeiro astronauta brasileiro?
Charles Conrad, terceiro homem a pisar no solo da Lua, teria nascido em Maratá-Porto União?
         Ninguém sabe ao certo como a confusão começou. Conta-se que uma camponesa teria visto uma fotografia do capitão Charles Conrad em um jornal da época e notado despretensiosamente alguma semelhança entre o terceiro homem a pisar na Lua e integrantes da família Rehme.

"O menino Charles nasceu na casa onde eu moro agora, ele é brasileiro e foi naturalizado americano quando os pais resolveram mudar-se para a América do Norte", declarou José Rehme, tio do astronauta, em novembro de 1969.
Quando o velho José Rehme contava que o sobrinho era um astronauta americano, ninguém lhe dava crédito. Causava apenas curiosidade e a história se transformou em lenda, que não correu além do Rio Iguaçu.

Verdade ou fantasia, a história foi caindo no esquecimento até que a missão Apollo 12 foi lançada em 14 de novembro de 1969, com os astronautas Alan Bean, Richard Gordon e Charles Conrad Junior, o comandante da missão. Seu objetivo era pousar na região lunar conhecida como Oceanus Procellarum e desenvolver alguns experimentos científicos.

Para o velho José Rehme, não importava o objetivo da missão. Importava era dizer, mais uma vez, que o sobrinho agora era mais importante: "Foi à Lua, mas nasceu no Brasil".

A lenda ganhou vida, o velho José Rehme ganhou credibilidade. Rapidamente, a incrível história se espalhou. Uma rádio local deu a notícia e era só do que se falava nos bares e no grande salão de baile de Maratá, onde os alemães deixavam os filhos numa creche anexa para poderem dançar nas noites de sábado. Os políticos locais se mobilizaram para descobrir se aquilo fazia sentido. A Prefeitura de Porto União, mesmo às voltas com as eleições que ocorreriam no próximo dia trinta, mandou emissários à procura de José Rehme, sua irmã Elisabete, primos e conhecidos da família Conrad, que emigrou em 1940 para a América do Norte.

Quando Charles Conrad Jr. pisou no solo lunar em 19 de novembro de 1969, no dia seguinte os repórteres Moraes Neto e Agenor Santos já estavam em Porto União para levantar informações e documentos para uma série de reportagens para o jornal O Estado do Paraná, que teve o seu início na edição n.º 5.537, uma sexta-feira 28 de novembro, com a seguinte manchete no alto da primeira página: "Conrad, herói da Lua, é catarinense"
"A Terra é azul, viste!" - exclamou em júbilo a população às margens do Rio Iguaçu, com a notícia que ganhou o mundo. O astronauta Charles Conrad teria nascido realmente no Maratá?

Na manhã do dia 26 de novembro de 1969 o repórter Manoel Moraes Neto e o fotógrafo Agenor Santos saíram em busca de informações em Porto União e arredores. Seguiram para a casa onde nascera e vivera por um bom tempo o menino Charles. Era uma casa de seis peças, escondida num vale muito verde, uma morada de arquitetura colonial alemã toda de madeira, a 20 metros de um riacho de águas muito claras.

Sentado à mesa da cozinha, o tio José Rehme recordava: "Não morávamos ainda em Maratá, quando minha irmã Ana e Josef se casaram, em Porto União. Logo nasceu uma menina, Erna. Depois, em 1929, nasceu o Charles. Ele tinha um ano e pouco de idade quando meu cunhado resolveu ir embora para a América do Norte. Isso foi em 1930, quando eu também vim morar nessa casa. A família seguiu para São Paulo e dali para o Porto de Santos. As primeiras cartas que recebemos deles vinham de Nova York, do Brooklin. Depois, em 1939, eles voltaram para essa mesma casa, para retornar definitivamente para os Estados Unidos em 1940. Charles já era grandinho, devia ter uns 10 ou doze anos".

Josef Konrad, imigrante alemão, chegou ao Brasil após a Primeira Guerra. Casou com a também imigrante Ana Rehme. Em Maratá adquiriu dez alqueires de terra e uma serraria. Nas fichas de imposto cedular sobre a renda de imóveis, do ano de 1983, constava a propriedade de Colônia Maratá, a extensão de 240.000 metros quadrados em nome de Josef Konrad, residente no bairro do Brooklin, em Nova York. E o imposto vinha sendo pago há quatro anos pelo senhor José Rehme.

Charles Conrad foi batizado por Frei Osmundo, capuchinho da Igreja Matriz de Porto União. No batistério, uma grande interrogação: na certidão do batistério do livro de registros foram arrancadas as folhas da letra C, referentes aos anos de 1928 e 1932. Não havia explicação para o sumiço do dia 2 de julho de 1929.

Erna tem registro civil em Porto União. Charles não foi registrado pelo pai no cartório civil. Segundo lembravam os parentes brasileiros, a atual grafia dos nomes teria uma explicação: Josef foi antes, em 1929. Com a chegada da mulher e filhos, nos EUA, Konrad resolveu que a família deveria se naturalizar. Assim aconteceu a mudança dos nomes. Josef Konrad passou a se chamar Joseph Conrad; Ana passou a se chamar Anne e o pequeno Charles teve o sobrenome Konrad mudado para Conrad e lhe acrescentaram um Junior ao nome.

Na localidade de Lança, a tia Elisabete ia abrindo os álbuns de família. Nas fotos de casamento de Charles, nos EUA, a semelhança entre o astronauta e o noivo era impressionante. Numa outra foto de 1966, Charles Conrad, a esposa e seus quatro filhos. Na foto oficial da Nasa, de 1969, também com os quatro filhos e esposa. A semelhança entre os quatro filhos já crescidos também causava espanto.

As cartas não mentem: das correspondências originais e seladas apresentadas por Elisabete Rehme, recebidas entre 1967 e 1968, todas provavam que foram enviadas de um só endereço, onde morava o cidadão Joseph Conrad: Torpon Springs, Flórida, Rout 1, Box 688 - 33589. Numa delas, de 1966, a revelação, escrita de próprio punho pelo pai do astronauta: "Charles agora é alto funcionário da Nasa".

O fato é que a onda ganhou força e a história de que Charles Conrad seria brasileiro alcançou a imprensa nos dias que sucederam a viagem da Apollo 12 à Lua, saindo em jornais como O Estado do Paraná e em revistas de circulação nacional, como Manchete e O Cruzeiro.

A incrível história do "astronauta de Maratá" repercutiu internacionalmente. A Nasa, através da UPI, distribuiu em Washington o seguinte telegrama: "A biografia oficial do capitão-de-mar-e-guerra Charles Conrad não faz nenhuma referência à possibilidade de que ele tivesse nascido ou mesmo vivido algum tempo, quando criança, no Brasil".

A cidade de Porto União estava nervosa e as informações iam se desencontrando, quando o Jornal da Tarde, de São Paulo, levantou a principal questão: "Para Charles Conrad se chamar "Junior", seu pai teria que também se chamar Charles Conrad. Mas se chamava Joseph".

José Rehme, irmão da mãe do astronauta, tratou de explicar. Dizia que quando o menino nasceu, seu pai o chamava de Josef. Logo depois, com menos de um ano, foi levado pelo pai para a Pensilvânia. De lá, a família só voltou depois de muitos anos, com o menino já se chamando Charles. "Minha mãe até estranhou - dizia José Rehme. Ela perguntou se o menino havia morrido e se era outro filho." Mas Anna - a mãe de Charles - explicou que lá eles tiveram que se casar novamente e registrar os filhos por uma segunda vez e, por isso, mudaram o nome" - registrou o Jornal da Tarde.

No dia primeiro de dezembro de 1969, a história parecia ter ganho, enfim, um ponto final. Falando à rádio Voz da América, a senhora Francis Sargent, a mãe do astronauta Charles Conrad Jr., negou que o comandante da Apollo 12 fosse brasileiro. E acentuou que o seu filho nasceu em hospital de Filadélfia, Estado da Pensilvânia, a 2 de junho de 1930. Na mesma cidade passou a infância e fez os primeiros estudos. As demais informações prestadas por Francis Sargent eram as mesmas encontradas na biografia oficial do astronauta. A senhora Sargent, que estava divorciada do marido e pai de Charles Conrad Jr., revelou também que o apelido em família era Pete.

O jornal Washington Post deu a notícia com destaque e a confusão em torno do caso do "astronauta de Maratá" complicou-se ainda mais, quando os repórteres conseguiram falar com o velho Joseph Conrad, em Tarpon Springs, Flórida, no telefone 9379430.

A conversa serviu para aumentar ainda mais o desacordo. Joseph Conrad negou que tivesse parentes em Santa Catarina e nem mesmo conhecia o Brasil. Porém, o mais estranho é que a reportagem chegou àquele telefone e endereço através de cartas escritas por Joseph Conrad à família Rehme em Maratá.

Com a nota oficial da Nasa e a entrevista da senhora Francis Sargent à rádio Voz da América, não havia mais como sustentar a história do "astronauta de Maratá". Os argumentos da família Rehme, por mais verossímeis, escorreram Rio Iguaçu abaixo.

A imprensa abandonou Porto União e, no dia 3 de dezembro de 1969, o jornal O Estado do Paraná encerrou sua série de reportagens com a manchete: "Quem tem medo da verdade?".

No texto inconformado do repórter Moraes Neto, uma última pergunta: "Afinal, Charles Conrad Jr. nasceu ou não no Brasil? Com quem está a verdade: com a família Rehme, que provou com documentação ter parentes em Tarpon Springs, na Flórida, ou com os parentes que agora negam até mesmo conhecer o nosso País?".

Seria verdade que o terceiro "terrestre" a pisar na Lua teria sido na verdade um "brasileiro"? Descendente de alemães, naturalizado norte-americano, o astronauta Charles P. Conrad Jr.

O terceiro homem a pisar no solo lunar, fato ocorrido aos 19 de novembro de 1969, pela missão Apolo 12, teria nascido em 02 de julho de 1930 na Colônia de Maratá, em Porto União (SC), filho do alemão Josef P. Conrad e de Erna Conrad. Essa história aqui registrada a título de curiosidade foi contada pelos repórteres Moraes Neto e Agenor Santos e publicada em forma de reportagem no jornal "O Estado do Paraná" em 29 de novembro de 1969 e posteriormente resgatada pelo jornalista Márcio Tonetti. Em sua edição de 15/04/06 o "Jornal de Brasília" retoma o assunto num texto de Cláudio Humberto:
“Segundo Tonetti, a NASA não atribui tal feito heróico a um "brasileiro", mas a um Charles P. Conrad Jr. que teria "nascido" na Pensilvânia (USA) em 1930. Isto teria uma explicação, segundo o citado jornalista, que informa — sempre baseado na referida reportagem original de "O Estado do Paraná" — que o astronauta seria filho de Josef P. Conrad, alemão que veio para o Brasil logo após a Primeira Guerra Mundial e que se casara com Ana Rehme, também ela de família alemã, e que teria fixado residência na Colônia de Maratá, distrito rural de Porto União (SC), cidade gêmea de União da Vitória (PR).
Descontente com a improdutividade das terras, o velho Conrad teria decidido ir embora para os Estados Unidos. A mulher, Ana, e os dois filhos, Charles e Erna Conrad, teriam permanecido no Brasil até 1939 quando, então, mudaram-se também para a América do Norte. Charles P. Conrad Jr. teria aproximadamente um ano e meio quando o pai dele o naturalizou norte-americano.
O astronauta Charles P. Conrad Jr., naturalizado norte-americano, morreu em conseqüência de graves ferimentos sofridos em razão de um acidente com sua moto, na Califórnia, em 08 de julho de 1999. Autoridades locais informaram que Conrad, já com 69 anos à época, viajava por uma estrada perto da localidade de Ojai quando perdeu o controle de sua motocicleta. Seriamente ferido, ele acabou morrendo no hospital da cidade.”

Funeral de Charles Conrad em 1999



Fontes:

http://www.pron.com.br/colunistas/67/35087/

http://www.parana-online.com.br/colunistas/67/35139/?postagem=O+CATARINAUTA+2

http://www.parana-online.com.br/colunistas/67/35222/?postagem=O+CATARINAUTA+3

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,pais-viveu-mito-de-astronauta-brasileiro-na-apollo-12,405534,0.htm

http://www.isaorg.org.br/web/janela-curiosidade.htm

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